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Diante da dor do outro

by Redação
abril 4, 2025
in Saúde
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Guernica, de Pablo Picasso - Imagem: Divulgação
Guernica, de Pablo Picasso – Imagem: Divulgação

Marlene Polito Publicado em 03/12/2024, às 13:30

São 7:30 da manhã, e as pessoas passam apressadamente pelas calçadas, lotam os pontos de ônibus para a felicidade dos ambulantes que vendem café e fatias de bolo caseiro. No carro, diante do sinal vermelho que insiste em não mudar, observo a cena, distraída. Também estou com pressa. Um homem jovem, quase esquálido, se aproxima com uma criança no colo; outro, não tão moço, ergue um cartaz “bradando” em português capenga que “A fome dói”. Sinalizo, balançando negativamente a cabeça, que não vou colaborar, e desvio os olhos, resultado do sentimento de vergonha e remorso que novamente me aflige.

Compaixão: esse sentimento, presente até nos animais irracionais, nos aproxima do outro, de todos os outros. Por causa dele, é praticamente impossível ficar indiferente diante daquele que sofre.

Susan Sontag, em seu livro Diante da dor dos outros, analisa o impacto das fotografias da Guerra do Vietnã e nos coloca frente a frente com a questão do sofrimento alheio e nossa reação a ele: piedade? Juízo crítico? Insensibilidade? O que nos move diante da dor do outro?

Sem rodeios, suas palavras lançam uma provocação constrangedora: ao sermos expostos à dor alheia, como reagimos? Ficamos sensibilizados e nos transformamos, ou nos tornamos anestesiados e naturalizamos uma condição desumana?

A banalização do sofrimento e a posição de espectador

Segundo Sontag, há uma banalização do sofrimento. Ficamos expostos a uma repetição tão frequente de cenas e imagens de dor que elas acabam se tornando banais, reduzindo nossa capacidade de empatia. Os exemplos são inúmeros.

Pessoas em situação de rua são praticamente ignoradas em meio ao turbilhão dos grandes centros urbanos — uma indiferença cotidiana que torna a dor “invisível”. Como reagimos à tragédia distante, como a fome na África, em comparação à dor próxima, como a de um vizinho?

Da mesma forma, a enxurrada de fotos de tragédias nas redes sociais frequentemente nos confronta com nossa capacidade — ou falta dela — de empatia. O olhar de alguém que perdeu tudo em enchentes ou incêndios é uma imagem recorrente em reportagens que recebem o mesmo espaço de memes e trivialidades. A cultura das redes sociais banaliza a dor ao transformá-la em espetáculo?

Sontag questiona se testemunhar a dor é suficiente e nos instiga a lembrar que olhar para o sofrimento deve ser mais do que um ato passivo.

The Vulture and the Little Girl, de Kevin Carter

Um caso de grande controvérsia é a fotografia de Kevin Carter, The Vulture and the Little Girl, publicada no The New York Times em 1993. A imagem, que traz uma criança faminta no Sudão com um abutre ao fundo, rendeu a Carter o Prêmio Pulitzer, mas também críticas ferozes por sua aparente inação diante da cena. Essa fotografia ainda levanta debates éticos sobre o papel do fotógrafo: registrar ou intervir?

O papel da arte e da mídia

Fotografias e representações artísticas da dor moldam nossa percepção do outro e da realidade, levantando questões éticas sobre o espectador. Como lidar com o dilema entre testemunhar a dor como um dever humano e a exposição que pode se tornar desrespeitosa ou sensacionalista?

Imagens, ao mesmo tempo que chocam e sensibilizam, correm o risco de se banalizarem com o tempo, transformando o sofrimento em um espetáculo que perpetua a impotência do observador. Nossa empatia se traduz em ação, ou permanecemos espectadores passivos diante do sofrimento do outro?

Candido Portinari, em suas obras que retratam crianças trabalhando no carvão e no campo, nos confronta com a dor invisibilizada da pobreza. Seus quadros capturam a essência do sofrimento humano, provocando o espectador a encarar essas realidades.

Meninas de carvão, série de Candido Portinari

Assim como Sontag aponta que imagens repetidas podem anestesiar, Portinari nos desafia a enfrentar algo que, na época, era quase banalizado: o trabalho infantil.

Arte que provoca reflexão sobre o sofrimento

Entre as representações mais poderosas da dor coletiva está Guernica, de Picasso. O caráter sombrio da guerra e do autoritarismo de Franco se revela no uso do preto e branco e tons de cinza, que escancaram o sofrimento, a angústia e a tristeza do povo espanhol após o bombardeio de Guernica em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola.

A arte que reflete o sofrimento nos coloca frente a frente com a fragilidade humana e o peso das desigualdades. Obras como Guernica ou as pinturas de Portinari nos desafiam a enxergar a dor do outro não como um espetáculo distante, mas como um apelo à ação. Susan Sontag nos lembra que, ao sermos espectadores, carregamos uma responsabilidade: reconhecer, sentir e, quem sabe, transformar.

A arte, afinal, não apenas documenta o sofrimento, mas também revela nossa própria humanidade — ou a falta dela.

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