Outro fator decisivo na correção de rumo da cafeicultura brasileira, o avanço do conhecimento científico e da tecnologia ocorreu principalmente graças à atuação de diversas instituições de pesquisa de ponta.
Entre os centros federais, destacam-se as universidades de Lavras (Ufla) e Viçosa (UFV) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que tem uma unidade dedicada exclusivamente ao café. Entre os estaduais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o Instituto Agronômico de Campinas e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Nos últimos anos, os pesquisadores criaram novas cepas de fungos e leveduras que controlam pragas dos cafezais. Esse controle biológico é importante não só para a produtividade, mas também para o meio ambiente, já que reduz ou até elimina o uso de agrotóxicos, que podem contaminar o solo e a água e eliminar outros organismos que não as pragas, comprometendo a biodiversidade.
As instituições agronômicas não se dedicam apenas a desenvolver novas tecnologias, mas também a levá-las aos produtores rurais, por meio da chamada assistência técnica e extensão rural.
A Embrapa Café, em parceria com o Consórcio Pesquisa Café, por exemplo, desenvolveu uma técnica, logo adotadacom sucesso pelos fazendeiros, que utiliza a braquiária (tipo de capim) como cobertura do solo entre as fileiras de pés de café.
Os pesquisadores descobriram que, ao contrário do que se acreditava, a braquiária não compete com o café pelos nutrientes da terra. Em vez disso, favorece o cafezal aumentando a porosidade do solo e a absorção de água, reduzindo a temperatura e o ressecamento da terra, evitando a erosão, favorecendo a presença de inimigos naturais das pragas e induzindo a movimentação e a reciclagem dos nutrientes. Utilizando-se a braquiária como cobertura, os pés de café ganham raízes mais profundas, resistem melhor à estiagem, demandam menos herbicida e produzem mais.
Raquel Miranda, da CNA, entende que não se deve acusar a cafeicultura anteriormente praticada no Brasil de ser propositalmente devastadora do meio ambiente, já que era a mesma que se praticava em praticamente todo o mundo:
— O conhecimento técnico era, naturalmente, menor. A própria Europa tem hoje cerca de 5% do território coberto com vegetação nativa porque também abriu seus campos de cultivo de cereais derrubando mata virgem e ateando fogo. Aliás, muito do conhecimento agrícola que se tinha no Brasil vinha da Europa, que produz em condições, como clima e solo, muito diferentes da nossa realidade. A produtividade aumentou e a sustentabilidade surgiu depois que os nossos institutos de pesquisa passaram a desenvolver técnicas específicas para a agricultura tropical.
Ela acrescenta que o passado predatório não é exclusividade da agricultura:
— A indústria também produzia impactos negativos. No início do século passado, por exemplo, não existiam direitos trabalhistas, como descanso semanal, férias remuneradas, limite da jornada de trabalho, salário mínimo. A realidade agora é outra porque a indústria, da mesma forma que a agricultura, foi acompanhando a evolução da sociedade.
 
			 
                                



